Júri do assassinato de contadora começa hoje em Palmeira das Missões
Sandra Mara Lovis Trentin foi morta em fevereiro de 2018. Acusados são o marido e ex-vereador de Boa Vista das Missões Paulo Landfelt e Ismael Bonetto
25/06/2025 08:22 por Maira kempf

Contadora trabalhava e residia em Boa Vista das Missões. Sandra Mara Lovis Trentin / Arquivo Pessoal
Sete anos depois da morte de Sandra Mara Lovis Trentin, contadora de Boa Vista das Missões assassinada em 2018, dois acusados vão a júri nesta quarta-feira (25). O julgamento inicia às 9h no Fórum de Palmeira das Missões, no norte do Estado.
A previsão é que o júri dure dois dias. No banco dos réus sentam o marido da vítima e ex-vereador de Boa Vista das Missões, Paulo Ivan Baptista Landfeldt, e Ismael Bonetto — acusados de serem mandante e executor do crime.
O julgamento havia sido marcado para fevereiro, mas foi cancelado depois que o antigo advogado de Landfelt deixou o caso.
Os réus respondem ao processo pelos crimes de homicídio qualificado (por motivo torpe; mediante paga ou promessa de recompensa; recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima e feminicídio) e pelo crime conexo de ocultação de cadáver. Os dois estão presos e negam envolvimento no homicídio.
Sandra deixou quatro filhos. Junto a outros familiares e amigos, eles farão uma manifestação em frente ao Fórum a partir das 8h com cartazes, faixas e rosas para pedir justiça pela mãe.
— Nossa família está contando que a justiça seja feita. Esperamos a condenação e queremos entender o que realmente aconteceu com nossa mãe. Ela nos foi tirada de maneira injusta e cruel. Queremos paz e acima de tudo, queremos que ninguém mais passe pela mesma dor. É difícil seguir em frente com tantas perguntas sem respostas, mas estamos unidos, lutando por ela e por justiça — disse a filha Ana Paula Trentin junto dos irmãos Rômulo, Romana e Alice.
A denúncia
Segundo o Ministério Público, o marido de Sandra planejou e ordenou a morte para encerrar o relacionamento conjugal sem a necessidade de partilha do patrimônio do casal.
Ela e Landfelt eram casados e residiam com os filhos menores de idade em Boa Vista das Missões. O réu teria contratado Ismael Bonetto e outros executores — não identificados pela investigação — para assassinar a vítima. A denúncia afirma que a mulher foi surpreendida sob ameaça de arma de fogo e levada a um local ermo do município, onde foi morta a tiros.
Landfelt era vereador em Boa Vista das Missões á época do crime.André Ávila / Agencia RBS
Depois, conforme o MP, os réus ocultaram o cadáver de Sandra. O homicídio teria ocorrido entre 30 de janeiro e 17 de fevereiro de 2018, e a ocultação do cadáver entre os dias 20 e 22 de fevereiro.
Os restos mortais da contadora só foram encontrados quase um ano depois, em janeiro de 2019, às margens da BR-158 entre Palmeira das Missões e Condor — a cerca de 40 quilômetros de onde a contadora sumiu.
O caso
Sandra Mara saiu da casa onde residia com o marido e três filhas, de 16, 11 e cinco anos na época, em Boa Vista das Missões, na manhã de 30 de janeiro de 2018. A contadora pegou a caminhonete que estava na residência do cunhado, passou no escritório de contabilidade, na mesma rua, e, por volta das 7h30min, seguiu para Palmeira das Missões.
Sandra Mara chegou a passar na Junta Comercial, no centro da cidade vizinha. Depois disso, circulou pelas ruas da área central e estacionou na Rua Rio Branco, ao lado de um CTG. A partir dali, não foi mais vista.
Veículo da contadora passou por perícia.André Ávila / Agencia RBS
O carro da vítima, uma Ranger, foi encontrado em Palmeira das Missões, logo após o sumiço. Dentro do veículo, foram achados dois chips e o cartão de memória do celular, a bolsa dela, um par de sapatilhas, dinheiro e diversos papéis do escritório. A família percebeu o sumiço do celular e da carteira de habilitação.
Quase um ano após o sumiço de Sandra Mara, em janeiro de 2019, uma ossada foi encontrada enterrada no limite de Palmeira das Missões e Condor — a cerca de 40 quilômetros de onde a contadora sumiu. O cadáver foi encontrado em um matagal próximo de uma lavoura de soja. Na mesma cova rasa, estavam pertences da contadora, como cartões bancários. A análise da arcada dentária confirmou que os restos mortais eram da vítima.
A causa da morte não pôde ser apontada com precisão, em razão do tempo transcorrido entre o óbito e a localização da ossada. Segundo o Ministério Público, a possibilidade de morte por disparo de arma de fogo não foi descartada pelos peritos. No entanto, não foi encontrado nenhum projétil na cova e nos restos mortais.
Contraponto
O que diz a defesa de Ismael Bonetto
Procurados pela reportagem, os advogados Volnete Gilioli e Lucas Estevão Duarte se manifestaram por meio de nota:
"Amanhã terá início o julgamento de um caso que há muitos anos clama por justiça — não apenas para a família da vítima, mas também para a sociedade e para os próprios acusados. Apesar do desejo de ouvir mais testemunhas e apresentar novas provas, a defesa reitera sua confiança na seriedade e na competência do Conselho de Sentença. Ismael acredita que os jurados serão capazes de analisar os fatos com imparcialidade e responsabilidade, chegando a um veredito justo."
O que diz a defesa de Paulo Ivan Baptista Landfeldt
Também a pedido da reportagem, o advogado Alexandre Hennig enviou o seguinte posicionamento:
"Tenho convicção absoluta da inocência do Paulo Ivan. Não vou entrar no mérito do processo antes do julgamento, mas posso dizer que essa é uma acusação absolutamente frágil e irresponsável."
GZH
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