Ex-secretária da causa animal de Canoas teria usado cargo para matar dezenas de bichos
Segundo delegada, Paula Lopes seria responsável por 239 eutanásias em oito meses e passou a ser investigada após denúncias
04/09/2025 14:15 por Maira kempf

Policiais cumpriram mandados de busca e apreensão contra ex-secretária suspeita de estelionato e maus-tratos. Ronaldo Bernardi / Agencia RBS Suspeita é investigada há oito meses após uma série de denúncias. Ronaldo Bernardi / Agencia RBS Ordens foram cumpridas em Canoas, Porto Alegre e Arroio dos Ra
Uma mulher que atuou como secretária da causa animal em Canoas, na Região Metropolitana, é investigada há oito meses pela Polícia Civil por usar a estrutura do município para matar animais doentes (prática conhecida como eutanásia) de forma excessiva, além de estelionato. Ela é o principal alvo da Operação Carrasco, realizada na manhã desta quinta-feira (4). Foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão.
— Diversas denúncias de pessoas que trabalhavam dentro da Secretaria do Bem-Estar Animal davam conta de uma matança indiscriminada de animais na secretaria. Essas pessoas tiraram fotos deles em sacos que estavam acondicionados ali mesmo. E na terça e na quinta-feira, esses bichos eram levados até uma universidade para serem incinerados — afirma a delegada Luciane Bertoletti, da 3ª Delegacia de Polícia de Canoas.
A delegada Luciane aponta que foram ao todo 239 eutanásias em oito meses e ainda foram encontrados termos de entrega de carcaças assinados, mas com os dados a serem preenchidos. A operação contou com a colaboração de agentes do Instituto-Geral de Perícias (IGP) e membros de ONGs de proteção a animais, que ajudam a contabilizar e encaminhar os bichos resgatados na secretaria para um local seguro.
— Eu percebo que é uma eutanásia em excesso pela quantidade de animais e também um local que não é um lugar que abriga animais para um conforto e um tratamento. Locais onde a gente entrou, não dava nem para aguentar o cheiro — opina Vladimir da Silva, da Rede de Proteção Ambiental e Animais (REPRAAS), de Teutônia.
A Polícia não divulga nomes, mas a reportagem apurou que se trata de Paula Lopes. Ela tomou posse como secretária em janeiro deste ano, no início da gestão do prefeito Airton Souza, e foi exonerada em agosto. Em uma publicação do Diário Oficial no último dia 13, consta que a exoneração foi feita a pedido da secretária.
As investigações tiveram início após denúncias feitas desde abril deste ano. Segundo a delegada, relatos apontam que ela teria matado de 15 a 30 animais por semana, principalmente cachorros e gatos.
Durante a ação, foram encontrados ao menos 14 bichos mortos guardados em sacos plásticos num freezer. Além disso, na sede da própria secretaria, havia um container fechado e sem ventilação onde eram mantidos muitos gatos em gaiolas, alguns até mesmo sem caixa de areia.
Além de ter atuado no Executivo, Paula tem uma ONG voltada ao resgate de animais, o Instituto Paula Lopes. Conforme a polícia, ela usaria a chave Pix da instituição para receber valores de campanhas em que prometia resgatar e cuidar de animais, mas há indícios de desvio desses recursos pela ex-secretária. Foram encontrados cerca de R$ 100 mil em espécie na casa dela.
A investigação aponta que ela se valia da própria instituição para levar bichos resgatados ao gabinete. No entanto, animais que já tinham tutores e que estavam sob os cuidados da secretaria também seriam executados.
— Se a gente for dar uma olhada nas redes sociais, ela recolhe muitos bichos e esses bichos nunca parecem saudáveis. Nunca aparecem tratados. Nós também temos a desconfiança de que ela, na verdade, recolhe bichos justamente para ganhar um dinheiro em cima desses animais — acrescenta.
Conforme a delegada, Paula realizaria a eutanásia dos animais por ser mais barato do que tratá-los. Ela pode responder também por maus-tratos. A ex-secretária usaria injeções para a prática.
As buscas feitas na manhã desta quinta-feira foram realizadas em endereços de Canoas, incluindo a própria sede da secretaria, Porto Alegre e Arroio dos Ratos, em um sítio de uma parente da investigada. A suspeita é que ela realiza a mesma prática no local.
A reportagem de Zero Hora procura a defesa de Paula Lopes. O espaço fica aberto a manifestações.
Nos stories do Instagram, ela confirmou o cumprimento de mandado em sua residência e afirmou que o seu celular foi confiscado. Nos vídeos, ela afirma que as denúncias são infundadas.
— Isso é só mais um reflexo do que a política faz — diz ela. — O meu único objetivo vai ser sempre ajudar os animais.
Paula ainda contou que foi alvo de outras denúncias do Ministério Público no passado, que não foram adiante e que o trabalho dela "incomoda" outras pessoas. Ela prometeu divulgar "as verdades disso tudo" assim que possível.
A prefeitura de Canoas se pronunciou em nota:
A Prefeitura de Canoas recebe com indignação as denúncias relacionadas à operação realizada na manhã desta quinta-feira (4). A administração municipal sempre se comprometeu a tratar o cuidado com os animais como prioridade. A Prefeitura reitera que colabora com as investigações e abriu um expediente interno para apurar os fatos com todo o rigor.
Quem é Paula Lopes
Apesar de não estar mais no cargo, o nome de Paula ainda consta como secretária da causa animal no site da prefeitura de Canoas, em que ela é introduzida como "empresária e ativista da Causa Animal, onde atua há mais de 20 anos".
No ano 2000, conforme a biografia, ela fundou o Projeto Adoradores de Vira-Latas. Já em 2018, ela criou a Associação Nacional Instituto Paula Lopes, na qual atua até hoje.
Nas redes sociais, tanto o perfil pessoal dela quanto o da ONG mostram vídeos de cachorros em más condições sendo acolhidos por ela. Paula ainda teve forte atuação durante a enchente do ano passado.
GZH
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