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Golpe do falso advogado: criminosos utilizam dados reais da Justiça para lesar vítimas

Diante da escalada dos casos, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou novas medidas de segurança nos sistemas processuais eletrônicos

27/10/2025 09:27 por Maira kempf


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Vítima preferiu não ser identificada. Reprodução / RBS TV


 

Um comércio clandestino de logins e senhas de advogados virou atalho para quadrilhas entrarem em sistemas eletrônicos da Justiça, vasculharem processos, coletarem dados sensíveis e, a partir daí, aplicarem o golpe do falso advogado. Segundo dados citados por seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), os prejuízos estimados para brasileiros nos últimos três anos passam de R$ 2,8 bilhões em cerca de 15 mil casos relatados à Ordem.

A reportagem exibida pelo Fantástico localizou vítimas e identificou anúncios que oferecem o esquema nas redes sociais. Com o login de advogados legítimos, os criminosos acessam o Processo Judicial Eletrônico (PJe), baixam procurações, petições e decisões, e entram em contato com as partes envolvidas — geralmente pessoas idosas ou em busca de benefícios judiciais — fingindo ser seus representantes.

Diante da escalada dos casos, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou novas medidas de segurança nos sistemas processuais eletrônicos. A partir de novembro, todos os advogados deverão utilizar autenticação em dois fatores, via aplicativo, para acessar o Processo Judicial Eletrônico e outras plataformas do Judiciário.

O objetivo é dificultar o uso de logins e senhas roubadas e impedir que terceiros consigam acessar os processos sem o dispositivo físico do advogado. No Tribunal Regional do Trabalho da Quarta Região, por exemplo, a medida entra em vigor dia 3 de novembro.

Golpista oferece serviços

Um dos golpistas que vende as credenciais afirmou, em mensagens obtidas pela reportagem, que envia um link para baixar um aplicativo que permite os acessos. O custo, incluindo login e senha roubados de um advogado, é R$ 500.

Ele (o aplicativo) vai instalar automaticamente quando tu estiver executando, vais realizar toda a instalação no PC”, disse o criminoso, em mensagem de áudio de visualização única.

Em julho, o Departamento Estadual de Repressão aos Crimes Cibernéticos deflagrou a terceira fase de uma operação que prendeu um golpista, no Espírito Santo, que negociava credenciais de advogados.

O homem preso é apontado como um dos principais fornecedores de senhas e logins. A operação também prendeu outras nove pessoas.

Um dos casos apurados pela reportagem de uso criminoso das senhas aconteceu em Parobé. A advogada Leandra Wichmann representa uma viúva que buscava a pensão do marido falecido. A cliente recebeu uma ligação de um suposto integrante do escritório de Leandra e, acreditando falar com a advogada, acabou transferindo R$ 255 mil ao longo de nove depósitos, após ser convencida de que o dinheiro serviria para liberar o valor do processo.

— Me chamaram para uma conversa, e eu achava que era a minha advogada falando comigo — contou a vítima.

A fraude só foi descoberta depois que Leandra verificou acessos indevidos ao processo e constatou que arquivos de suas petições e da procuração haviam sido usados pelos golpistas para enganar a cliente. Senhas de um advogado do Paraná foram utilizadas para acessar as peças processuais minutos antes de a mulher receber mensagem dos falsários.

Diálogo com golpista

Durante a apuração, a reportagem conseguiu entrar em contato com o criminoso que se passou pela advogada. O golpista — um homem que tentava imitar a voz de mulher — atendeu a ligação e tentou sustentar a farsa:

REPÓRTER: "Tu estás aplicando um golpe se fazendo passar por uma advogada e com voz de mulher?
GOLPISTA: “Leandra Wishman. Doutora Leandra.”
REPÓRTER: “Certo. Não, é que eu achei que tu fosses um golpista.”
GOLPISTA: “Eu já abri um inquérito contra o senhor.”
REPÓRTER: “Mas advogada não abre inquérito. Quem abre inquérito é a polícia.”
GOLPISTA: “Pronto. Eu já abri. Já fui na delegacia, se o senhor não sabe, tá?

REPÓRTER: “Eu sou o repórter Giovani Grizotti. Isso aqui tudo está sendo gravado.”

O golpista, então, encerrou a ligação.

A própria Leandra Wichmann decidiu ligar para outro integrante da quadrilha, que se fazia passar por “sócio” dela. A conversa travada diante da vítima foi acompanhada pela equipe de reportagem:

LEANDRA: “Bom dia, doutor Guilherme. Tudo bem?
GOLPISTA: “Tudo bem.”
LEANDRA: “Eu sou a verdadeira Leandra, a advogada que o senhor está tentando enganar há bastante tempo, aplicando esse golpe contra a minha cliente. O que o senhor tem a dizer sobre isso?”
GOLPISTA: “Não... eu não tô sabendo de duas Leandras, né?”
REPÓRTER: “O senhor não tem vergonha de estar aplicando esse golpe em uma pessoa humilde e honesta?”

Logo em seguida, o golpista desligou o telefone.

Dicas para se proteger

  • Desconfie quando pessoas desconhecidas entrarem em contato oferecendo facilidades
  • Golpistas normalmente dizem que essa facilidade oferecida tem de ser aproveitada com urgência. Fique atento quando exigirem pressa
  • Antes de repassar informação pessoal ou realizar qualquer tipo de pagamento não combinado previamente, confirme pessoalmente com seu advogado
  • Converse com familiares ou amigos banco se estiver desconfiado
  • O Tribunal de Justiça não cobra nenhum valor para a liberação de parcelas e tampouco para o pagamento do saldo ou integralidade de crédito de precatórios

GZH



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